Ter opinião não te faz artesão
Imagine um mundo onde cada objeto que você toca carrega uma história, um pedaço de alma, um fragmento de tempo. Agora, respire fundo e pergunte a si mesmo: o que você realmente sabe sobre artesanato?
Vivemos tempos em que todo mundo tem algo a dizer — e principalmente tem onde dizer. Redes sociais deram palco às opiniões, e, com isso, falar ficou fácil.
Mas aqui vai uma verdade que poucos encaram: ter opinião sobre artesanato não te faz artesão. E mais — opinar sem compreender o que há por trás de uma peça é como julgar um livro pela capa: superficial, apressado e injusto.
O artesanato não é apenas um passatempo, nem uma peça bonita exposta à venda. Ele é uma linguagem viva — entrelaçada com histórias, identidades e saberes ancestrais.O artesanato é uma expressão profunda de identidade cultural e de resistência criativa. É um campo onde o conhecimento não se constrói apenas na teoria, mas também na prática — no toque, no erro, no tempo investido, no olhar atento.
O artesão é alguém que carrega no corpo e nas mãos a sabedoria de transformar matéria em sentido, técnica em arte, trabalho em afeto.
Quando se comenta levianamente sobre o preço de uma peça artesanal, sobre sua estética ou funcionalidade, sem compreender o que há por trás (desde a escolha dos materiais até a bagagem cultural envolvida) corre-se o risco de desvalorizar um trabalho legítimo, que é muitas vezes o sustento, a paixão e o propósito de vida de quem o faz.
O artesão não “faz arte” por impulso. Ele mergulha em processos, erra, acerta, aprende, repete, aprimora. Cada ponto, dobra ou corte é carregado de presença, cuidado e intenção.
Como afirma Richard Sennett em O Artífice (2009), a verdadeira maestria no fazer artesanal se revela no cuidado com os detalhes, no respeito ao processo e na busca contínua pela excelência. Isso não se aprende apenas assistindo vídeos ou “dando uma olhadinha” em perfis de Instagram. Isso exige presença, prática, paciência e muita humildade..
Antes de emitir um julgamento, vale refletir: sua opinião vem de um lugar de conhecimento… ou apenas de gosto pessoal? Está realmente valorizando o feito à mão… ou só repetindo críticas fáceis?
Porque o artesanato não é frágil. Ele é resistência.
Em um mundo que produz em massa e descarta com velocidade, o artesanal se ergue como um gesto de rebeldia criativa. Ele não concorre em quantidade, mas em alma. Não entrega pressa, mas propósito.
Cada peça é única porque carrega a marca de quem a criou — um olhar, uma vivência, uma cultura. Ao adquirir uma peça artesanal, você não está apenas comprando um produto. Está acolhendo um processo, abraçando uma história, respeitando uma tradição.
E se engana quem pensa que o digital apagou esse valor. Na verdade, a tecnologia deu ao artesanato um novo palco. Redes sociais, lojas online, vídeos e tutoriais ajudaram a espalhar as histórias que antes ficavam restritas a feiras e ateliês. Hoje, o mundo ouve o artesão. E mais do que isso: o mundo se conecta com ele.
A tecnologia não substitui o toque, mas amplia sua voz.
Sendo prova viva de que tradição e inovação não são opostos; elas podem caminhar juntas, lado a lado, quando o respeito e a intenção estão presentes.
Então, da próxima vez que segurar uma peça artesanal — ou quiser opinar sobre ela: pare, observe, Sinta e entenda.
O artesanato é um convite à sensibilidade num mundo que nos endurece.
É um espaço de expressão num cenário que exige padronização.
É um lembrete de que o que tem valor, nem sempre tem pressa.
O artesanato é uma linguagem. E, como toda linguagem, para ser compreendida e respeitada, precisa ser estudada, vivida e sentida.
E você está pronto para mergulhar nesse universo com mais respeito, presença e consciência?
Comente o que voce acha desta reflexão, ouvir a tua voz nos possibilita caminhar em comunidade trilhando algo melhor e maior!
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